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27 de maio de 2018

DEUS NÃO É UM MORDOMO DIVINO


Dizem que a porta que Deus abre ninguém fecha. Então porque a porta de emprego que consegui em baixo de jejum e oração se fechou e até agora não recebi um centavo do que a empresa me devia?
Me deparei com essa indagação a alguns dias, e a primeira sensação que tive foi de susto. O meu primeiro pensamento sobre essa frase foi: Deus não é nosso mordomo divino! [1]
Me lembro bem que ainda quando criança ao perguntar a minha mãe como o mundo surgiu ela disse: Foi Deus quem criou todas as coisas minha filha. O sol, a lua, as estrelas e tudo que existe no universo! Bem, estava aí a primeira definição sobre Deus que aprendi, a de Criador. Com o passar do tempo fui descobrindo que Deus era mais do que isso, haviam inúmeras outras palavras que poderiam expressar quem Ele é: soberano, santo, onisciente, onipotente, onipresente, grandioso, e por aí vai. Quando perguntasse quem é Deus para as pessoas são essas definições que costumasse ouvir como resposta.  Sempre que pretendemos definir Deus atribuímos a Ele inúmeros adjetivos que revelam a sua soberania. Isso é algo automático, acontece espontaneamente. Se qualquer pessoa pedir para mim ou você para definirmos Deus, provavelmente atribuiremos a Ele concepções de grandiosidade, elementos que o apresente como Excelsior.
Entretanto, a pergunta que inicia esse texto demonstra o contrário. Revela uma outra imagem de Deus, a de mordomo divino. Isso nos leva a notar como é incoerente a definição de Deus para muitos evangélicos brasileiros, que ao mesmo tempo em que enxergam Deus como soberano, criador de todas as coisas, inclusive de nós, também querem atribuir a Ele o papel de serviço 24 horas, devendo nos atender quando, onde e como quisermos. Isso acontece porque muitas pessoas tratam de forma leviana a ideia do amor de Deus, e consequentemente não compreendem bem quem Ele é.
De fato, Deus é pessoal, mas não é igual a nós, é melhor do que nós, é prefeito, é auto existente, possui vida em si mesmo, é eterno, é justo, é nosso criador, é o centro do universo. E nós, bem, em poucas palavras, somos o oposto de tudo isso. Somos criaturas. Como diz Collin Hansen, é justo que, se fomos criados por Deus, vivemos para sua glória [2]. Assim, fomos criados para glorificar a Deus (1Pe 4. 11: Você tem o dom de falar? Então faça-o de acordo com as palavras de Deus. Tem o dom de ajudar? Faça-o com a força que Deus lhe dá. Assim, tudo que você realizar trará glória a Deus por meio de Jesus Cristo. A ele sejam a glória e o poder para todo o sempre! Amém – NVT). Até mesmo Jesus Cristo em uma de suas orações disse: Pai, glorifica teu nome! (Jo 12.28). Ao ressuscitar Lazaro, por exemplo, não o fez para enaltecer o ser humano, mas para que Deus fosse glorificado (Jo 11.4: Quando Jesus ouviu isso, disse: "A doença de Lázaro não acabará em morte. Ela aconteceu para a glória de Deus, para que o Filho de Deus receba glória por meio dela" - NVT).
Também, não podemos adorar a Deus com o intuito de recebermos algo em troca. Não devemos jejuar e orar na pretensão de que Deus nos recompense materialmente por isso. Pelo contrário, não importa o que tenhamos que enfrentar, nossa escolha será sempre estar com Deus o adorando e rendendo graças (Mc 12. 30/NVT: Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de toda a sua mente e de todas as suas forças) [3]. Além disso, como aponta o pastor John Lin, o segundo mandamento, revela que não podemos adorar a Deus segundo os nossos conceitos sobre Deus, mas temos que adorá-lo segundo o que Ele é.  Em outras palavras, não devemos adorar falsos deuses, e não devemos adorar a Deus de modo falso. Não podemos tornar o nosso objetivo de vida – emprego, conforto, dinheiro, ou qualquer outro alvo – um deus. Esses elementos não devem se tornar objeto da nossa adoração. Ou seja, um emprego, uma universidade, o capital financeiro, um sonho, ou qualquer outra coisa não deve ser compreendida como algo que vai  prover mais conforto do que Deus [4].
Nesse sentido, não devemos crer e adorar a Deus única e exclusivamente porque o vemos como provedor do nosso conforto e desejos pessoais, como mordomo divino. Não se deve criar um Deus ao gosto do freguês para atender os prazeres do nosso ego e aliviar as nossas frustrações pessoais . A Bíblia diz que devemos adorar apenas ao verdadeiro Deus, o “Eu Sou” (Dt 5.7: Não tenha outros deuses alem de mim - NVT)
Como bem disse o apostolo Paulo, chegaria o tempo em que as pessoas já não escutarão o ensino verdadeiro. Seguirão os próprios desejos e buscarão mestres que lhes digam apenas aquilo que agrada seus ouvidos. Rejeitarão a verdade e correrão atrás de mitos (2Tm 4.3-4/NVT). Caro leitor, que possamos não buscar falsos ensinos que nos apresente uma replica de Deus, ou uma versão revisada dele que pretende apenas nos satisfazer. Diante dessa confusão que tem sido feita a respeito de Deus é  importante que possamos nos lembrar sempre que Deus revela verdades sobre si mesmo através da sua Palavra, é através da Bíblia que podemos conhece-lo melhor, ela é o caminho para podermos nos relacionar com o Criador. [5] Diante disso vale a pena refletir: Se te perguntassem agora quais são as verdades que Deus revela sobre si mesmo o que você diria?



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REFERÊNCIAS
BÍBLIA SAGRADA: NOVA VERSÃO TRANSFORMADORA [recurso eletrônico]. 1 ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2016 
HARRIS, Joshua. Cave mais fundo: o que você acredita? Porque isso importa? [recurso eletrônico]. São José dos Campos, SP: Fiel, 2011. 
Imagem disponível em <https://bit.ly/2GSL7ZL> acesso em 26/05/2018
[1] Peguei emprestado esse termo (mordomo divino) de Smith e Deton, que é citado no livro Cave mais fundo, escrito por Joshua Harris. 
[2] HANSEN, Collin (org.). Devocional do Catecismo Nova Cidade: A verdade de Deus para nossos corações e mentes [recurso eletrônico]. São José dos Campos, SP: Fiel, 2017. Primeira parte, pergunta 4 (Como e porque Deus nos criou?). 
[3] Sobre o assunto ver HANSEN, Collin (org.). Devocional do Catecismo Nova Cidade: A verdade de Deus para nossos corações e mentes [recurso eletrônico]. São José dos Campos, SP: Fiel, 2017. Primeira parte, pergunta 6 (Como glorificar a Deus?).
[4] Ver comentário de John Lin em HANSEN, Collin (org.). Devocional do Catecismo Nova Cidade: A verdade de Deus para nossos corações e mentes [recurso eletrônico]. São José dos Campos, SP: Fiel, 2017. Primeira parte, pergunta 9 (O que Deus requer nos mandamentos primeiro, segundo e terceiro?).
[5] Sobre a Doutrina de Deus, seu caráter e seus atributos ver HARRIS, Joshua. Perto, mas não no meu bolso. In______Cave mais fundo: o que você acredita? Porque isso importa? [recurso eletrônico]. São José dos Campos, SP: Fiel, 2011. cap. 3. 

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