Bem, para sabermos se essas
afirmações têm algum fundamento precisaremos esclarecer algumas questões:
1. O que é depressão
Depressão é uma doença psiquiátrica, crônica e recorrente, que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite [1].
Diante dessa definição
sobre seria no mínimo insensato tratarmos da depressão como frescura.
Note que ela é uma doença, e doença é coisa de gente, e crente também é
gente.
Porque para nós é tão fácil compreender que o cristão pode ser acometido por uma dor de cabeça, por uma gripe, até mesmo por um câncer, mas é difícil de aceitar que o cristão pode ter de enfrentar a depressão?
Porque para nós é tão fácil compreender que o cristão pode ser acometido por uma dor de cabeça, por uma gripe, até mesmo por um câncer, mas é difícil de aceitar que o cristão pode ter de enfrentar a depressão?
Isso é fruto de um
preconceito (um conceito pré-estabelecido) a respeito de uma doença. Essa má
compreensão leva muitos cristãos a acreditarem que um
irmão em Cristo que está acometido pela depressão não se encontra realmente depressivo, ou que essa pessoa não é verdadeiramente cristã. Essa errônea e falsa
compreensão só pioram as coisas, pois, apenas contribui para gerar mais
sofrimento e culpa em um coração que já está suficientemente arrasado.
2. A depressão infelizmente tem se tornado uma doença comum
O número de pessoas que vivem com depressão aumentou 18% entre 2005 e 2015. É o que aponta um novo relatório global lançado nesta quinta-feira (23) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a depressão atinge 11,5 milhões de pessoas (5,8% da população), enquanto distúrbios relacionados à ansiedade afetam mais de 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) [2].
Por mais que queiramos
negar a depressão tem crescido e alcançado cada vez mais pessoas. Ela é considerada o “resfriado” dos transtornos mentais e já foi descrita
como “o mais difundido, sério e dispendioso transtorno psiquiátrico dos dias
de hoje” (COLLINS, p. 122), infelismente tem sido comum na vida de muita gente, inclusive
de cristãos. Murray em seu livro Crente
também tem depressão, aponta alguns fatores relacionados a vida de um
cristão que contribuem como causas para a depressão. Ele afirma:
A depressão também não é incomum entre cristãos professos. Em verdade, nestes dias parece haver uma epidemia de depressão, ansiedade e crises de pânico no meio dos crentes — tanto jovens quanto velhos. Isso, pelo menos em parte, é causado pelo estado depressivo da igreja e da nação. Ouvimos com frequência notícias desencorajadoras sobre divisões e problemas na igreja e cristãos que apostatam ou caem em pecado. Além disso, há o direcionamento secular e anticristão de muitos governos que continuam a desfazer as leis e os padrões judaico-cristãos sobre os quais a nossa civilização foi construída, e assim atacam e assolam a vida familiar. Existe uma implacável deturpação e perseguição aos cristãos através da mídia escrita e falada. E, para coroar tudo isto, ingerimos uma incessante dieta de más notícias sobre o palco internacional com guerras, terrorismo e desastres naturais sempre diante de nós.Nestas condições, portanto, não é de se admirar que os cristãos reajam de modo negativo e se tornem deprimidos e ansiosos a respeito de sua própria situação, família, igreja, e o mundo em que vivem.
Isso apenas comprova que não devemos ser negligentes ao tratarmos desse assunto, não devemos criar conceitos errôneos a respeito dele, pelo contrário, temos que ficar atentos e conhecer melhor essa doença que tem feito parte do cotidiano de muitas pessoas [3].
3. Muitos cristãos não compreendem a depressão
John Lockley escreve: Estar deprimido é, em si mesmo, bastante ruim, mas ser um cristão deprimido é ainda pior. E ser um cristão deprimido numa igreja cheia de pessoas que não entendem de depressão é ter um gostinho do inferno [4].
Uma das
dúvidas mais recorrentes dos cristãos a respeito da depressão é:
Depressão é sinal de pecado ou falta de fé?
Essa dúvida torna imprescindível a compreensão de
que a depressão traz consequências para a vida espiritual, mas isso não
significa que ela seja causada por problemas que partem da nossa vida
espiritual. Ela pode ter diversas causas, que costumam atuar
juntas. Essas causas estão sobretudo ligadas a fatores físicos e mentais.
Isso não significa dizer que enfermidades mentais não podem ser causadas por
pecados pessoais [5]. Contudo, precisamos compreender que as causas da depressão são
complexas e variadas. Como afirmou Dr. Martyn Lloyd-Jones:
Muitos cristãos, de fato, estão em total ignorância no que diz respeito a esta região onde as linhas divisórias entre o físico, o psicológico e o espiritual se encontram. Frequentemente tenho percebido que tais líderes [de igrejas] têm tratado aqueles cuja perturbação era, obviamente, principalmente física ou psicológica, de um modo puramente espiritual; e se você faz assim, você não somente não ajuda, mas agrava o problema [6].
4. A Bíblia fala sobre a depressão
Muitos cristãos que
estudam a depressão afirmam que na Bíblia há vários versículos que se referem a ela [7]. Entretanto, é evidente que você não irá ver em suas páginas o termo
clínico “depressão”, isso seria anacrônico, ou encontrar cada uma das causas e
consequências dessa enfermidade. Como afirma Murray:
A Bíblia nunca afirma que “tal personagem teve uma enfermidade mental”, ou que “tal personagem estava com depressão”. No entanto, ela frequentemente descreve homens e mulheres que manifestaram muitos dos sintomas da depressão e ansiedade. Em alguns casos não está claro se estes sintomas refletem uma enfermidade mental duradoura ou simplesmente uma baixa temporária na saúde mental e emocional do indivíduo, algo que todo mundo atravessa de tempos em tempos. Por exemplo, sintomas de depressão e ansiedade podem ser vistos em Moisés (Nm 11.14), Ana (1Sm 1.7, 16) e Jeremias (20.14-18; Lm 3.1-6). Nesses casos é difícil dizer se os sintomas refletem uma depressão ou uma simples baixa temporária. Dr. Martin Lloyd-Jones argumenta, a partir de evidência bíblica, que Timóteo sofria de uma ansiedade quase paralisante. Um exemplo ainda mais persuasivo de doença depressiva pode ter sido tomado de Elias (1Rs 19.1-18), Jó (6.2-3, 14; 7.11), e de vários salmistas (Sl 42.1-3, 9; 88) [8].
Alguns autores
apresentam o exemplo de Jesus, que conheceu a depressão no período próximo a
crucificação [9]. Cristo estava extremamente angustiado no Getsêmani: “Minha alma está profundamente triste, a
ponto de morrer”, disse ele. “Fiquem aqui e vigiem comigo” (Mt 26.38/NVT)
Mas, é importante
ressaltar que na Bíblia o desespero está constantemente em contraste com a
esperança. A Bíblia apresenta a realidade do desespero humano, mas o que ela enfatiza
é a fé, a confiança e esperança em Deus.
5. A depressão e a graça de Deus
Charles H. Spurgeon (1834-1892), foi um dos maiores pregadores de todos os tempos, sendo reconhecido como o príncipe dos pregadores, ele é o autor com mais obras
cristãs publicadas, produziu mais de 3500 sermões e até hoje suas produções são ferramentas de estudos de diversos cristão de diferentes denominações.
Esse fantástico homem cristão lidou com a depressão em sua vida. Ele
compreendia a luta diária que tinha que travar. Sabia que a compreensão clínica a respeito
da depressão era necessária, mas também entendia que a fé era um elemento
precioso nessa batalha [10]. Por isso,
o pastor, conselheiro religioso, ou amigo, deve aprender a dar conta das realidades médicas, psicológicas e comportamentais da depressão. Por outro lado, o cuidador, seja ele médico, terapêutico, psicológico ou comportamental não deve descartar a contribuição de realidades espirituais para a depressão circunstancial e biológica [11].
Conclusão
Esse poste não tem a
intensão de esgotar este assunto, de fazer um estudo profundo sobre o mesmo ou
de apresentar soluções instantâneas a respeito da depressão. Apenas pretende expor
algumas informações relevantes sobre o tema que possam esclarecer dúvidas e também contribuir para quebrar paradigmas erroneamente construídos.
Para uma maior
compreensão a respeito desse assunto vale muito apena conhecer o livro Crente Também tem Depressão de David
Murray, que traz uma abordagem simples, profunda e pastoral sobre o tema. É um
livro indicado para os que acompanham pessoas com depressão, para os que querem
conhecer sobre o assunto e para aqueles que enfrentam a depressão (para saber
mais sobre o livro clique AQUI).
E você?! O que pensa sobre o assunto? Deixe sua opinião nos comentários!
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E você?! O que pensa sobre o assunto? Deixe sua opinião nos comentários!
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REFERÊNCIAS
COLLINS, Gary R. Aconselhamento Cristão: Edição 21. São Paulo: Vida Nova, 2004.
ESWINE, Zack. A depressão de Spurgeon: esperança realista em meio à angústia. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015.
Murray,
David. Crente também tem depressão.
Recife. PE: Ed. Os Puritanos/Clire, 2012.
[1]
Disponível em Site oficial do Dr. Drauzio Varella <https://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/depressao/>acesso
em 12/02/2018.
[2]
Disponível em ONU Brasil <https://nacoesunidas.org/oms-registra-aumento-de-casos-de-depressao-em-todo-o-mundo-no-brasil-sao-115-milhoes-de-pessoas/>
acesso em 12/02/2018.
[3]
Murray, cap. 1, posição 138 e 144 de 1457 no aplicativo Kindle.
[4] Citado por Murray, cap. 1, posição 170 e 175 de 1457 no aplicativo Kindle
[5] Murray, cap. 2, posição 388 de 1457 no aplicativo Kindle
[6]
Citado por Murray, cap. 3, posição 473 de 1457 no Aplicativo Kindle.
[7]
Ver: COLLINS, p. 123; Site do Wilson Porte Jr: Disponível em < http://www.wilsonporte.org/site/depressao-e-graca-ultimas-reflexoes/>
acesso em 13/02/2018; MURRAY, cap. 1.
[8]
MURRAY, Cap. 1, posição 125 de 1457 no aplicativo Kindle.
[9]
Ver Site do Wilson Porte Jr: Disponível em < http://www.wilsonporte.org/site/a-depressao-na-vida-de-cristo/>
acesso em 12/02/2018; COLLINS, p. 123
[10]
Ver ESWINE, Zack. A depressão de Spurgeon: esperança
realista em meio à angústia. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015.
[11]
ESWINE, posição 75 de 188 no aplicativo Kindle
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